Curadoria de Fernando Brízio
A água está em todo o lado, molda tudo, é vital e sem ela a vida não seria possível. Pode assumir muitas formas, manifestando-as em simultâneo. É uma poderosa lente através da qual pensamos o mundo e a adaptabilidade do design às rápidas e incessantes transformações que se têm vindo a operar na “realidade”, onde o mundo que conhecemos está a desintegrar-se e ainda não sabemos como vai ser o próximo.
O entendimento que temos da água é, de um modo geral, superficial, redutor: vemo-la sobretudo como um recurso, uma superfície líquida aprisionada, separada da restante matéria. Isto restringe o modo como nos relacionamos com ela.
Prevê-se que em 2030 haja um défice de 40% de água em relação à procura. Como podemos cuidar do que não conhecemos bem? Para esta edição da Porto Design Biennale propomos uma plataforma-laboratório transdisciplinar, de observação, pensamento, criatividade e aprendizagem, que atuará em simultâneo nos espectros visível e invisível, orgânico, inorgânico e efémero da água. Esta plataforma-laboratório é “hidratada” a partir de seis propostas:
A partir da interligação entre estas seis propostas procuramos desenvolver e apresentar estratégias que contribuam para reconhecer, reparar, restaurar e pensar novas relações com o mundo. Para além de projetar melhores e mais eficientes usos da água, devemos conceber modelos de coabitação alternativa, simbiótica, entre humanos e mais que humanos, uma relacionalidade vantajosa e sustentável para todos. Relações cooperativas, ecológicas, que abracem os vários espectros da realidade e da água, nas suas várias formas e lugares. Em vez das mesmas palavras e histórias, procuramos “hidratar” com novas palavras, trazer para a luz outras narrativas, falar com estranhos e com isso semear ideias.
A partir da água, desejamos nutrir um novo léxico que expanda o nosso campo relacional com o mundo. Aprender com a água revela-nos a complexa e intrincada teia de interdependências que nos liga ao planeta como um todo.
Fernando Brízio
Fernando Brízio nasceu em Angola e estudou Design em Lisboa, cidade onde vive e trabalha. Tem desenvolvido produtos para a indústria, séries limitadas, exposições, cenários e espaços para empresas e organizações, como Droog Design, Amorim Cork, Experimenta Design, Nike, Adidas, Authentics, Fábrica Bordallo Pinheiro, Il Coccio, Arena Ensemble, O Som e a Fúria, Museu de Serralves, Cristina Guerra Contemporary Art, Galerie Kreo, entre outros. O seu trabalho foi exibido e publicado internacionalmente e é por vezes desenvolvido de modo independente, diluindo fronteiras disciplinares.
Brízio ensina na ESAD.CR desde 1999, onde concebeu e coordenou vários cursos nos territórios do design de produto e de espaços. Foi professor na Faculdade de Belas Artes Lisboa — UL e professor visitante em várias escolas como a ECAL — École Cantonale d’Art em Lausanne, HFG — Karlsruhe University of Art Design e FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Tem participado em júris e palestras em Portugal e no estrangeiro. Foi curador de vários projetos e exposições, entre as quais SCool Ibérica e Paradisaea Lux Frágil 20 anos. Os seus trabalhos integram a coleção permanente do MUDE — Museu do Design e da Moda de Lisboa, e do IMA — Museu de Arte de Indianápolis, entre outras coleções. Atualmente, para além de continuar a fazer projetos, é investigador no Lida — Laboratory in Design and Arts do Politécnico de Leiria e no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.