Porto Design Biennale 2025
A edição da Porto Design Biennale 2025 lança um "Open Call" para que propostas de design possam integrar a exposição "O TEMPO É PRESENTE. Inventar o Comum".
Acede ao texto curatorial na íntegra.
Assinalando a 4ª. edição da Porto Design Biennale, intitulada TIME IS PRESENT. Designing the Common com curadoria de Angela Rui e Matilde Losi, os designers estão convidados a apresentar as suas propostas para a exposição na Casa do Design em Matosinhos.
Quantas vezes não tivemos tempo?
No entanto, o tempo existe e dizer que não o temos implica o tempo não nos pertencer, tornando-se a única forma de luxo a que muitos de nós podem aspirar.
Os gregos antigos distinguiam duas formas de tempo: Chronos - tempo quantitativo, o tempo dos relógios - e Kairos - tempo qualitativo, ligado a um sentido de ocasião.
Desde então, o Chronos tem sido a principal referência para identificar o tempo na vida quotidiana, deixando de lado o Kairos, o tempo qualitativo ligado às atividades de lazer e ao sentido de ocasionalidade.
No passado, o dia de trabalho de 8 horas foi concebido para regular o tempo dedicado ao trabalho, ao lazer e ao descanso. Hoje, apesar da diluição dessa separação, não perdemos o imperativo de quantificar o tempo. A compressão e compartimentação do tempo segundo as leis da eficiência, da produção e do turbo-capitalismo estão diretamente ligadas à condição de esgotamento planetário dos corpos, dos recursos e da própria Terra – todos reduzidos às suas funções utilitárias.
Estamos imersos numa cultura da quantidade (Chronos) que atua como uma desqualificação da qualidade (Kairos). Ao objetivar o mundo através do tempo, as suas qualidades sensíveis foram postas de lado, e todas as atividades que não produzem capital - ou seja, tudo o que diz respeito ao cuidado com as pessoas, com as outras espécies, com o ambiente, com o mundo em que gostaríamos de viver - são percebidas como não valiosas, criando um sentimento de ansiedade e de não-futurabilidade.
O TEMPO É PRESENTE. Inventar o Comum convida à mudança na nossa perspetiva quotidiana.
O que aconteceria se também começássemos a observar o potencial do tempo qualitativo? Talvez o presente não fosse visto como uma crise a ultrapassar, mas antes como uma dimensão repleta de possibilidades coletivas à espera de serem ativadas. Esta perspetiva habita plenamente o agora e sugere a importância de reclamar o tempo como um recurso comum - uma dádiva que pertence a todos, uma condição de pertença, um presente de presença.
Esta visão enquadra o design como uma construção coletiva do mundo, entendida como um envolvimento ativo, contínuo e realista com a materialidade do presente, em que a capacidade coletiva de moldar relações sistémicas se torna simultaneamente meio e sujeito, levando a disciplina do design para além da ideia de uma prática orientada para o futuro ou para a resolução de problemas.
Aqui, “o comum” expande-se dos recursos partilhados para abraçar uma dimensão fundamental da produção social que inclui elementos materiais juntamente com a linguagem, o conhecimento, os afectos, as relações e, claro, a confiança.
Assim, assumindo o tempo como um recurso partilhado e o design como uma prática política, a bienal torna-se uma plataforma que deixa de funcionar como uma instituição para passar a funcionar como uma constituição - um processo vivo que produz ativamente novas e duradouras relações sociais, formas de organização e modos de colaboração.
Com estas premissas, a exposição O TEMPO É PRESENTE. Inventar o Comum apresenta-se como um campo de ensaio para projetos e práticas transdisciplinares de justiça espacial capazes de conceber objetos, lugares, atividades e processos capazes de vitalizar realidades coletivas e associativas, garantindo-lhes agência a longo prazo graças à crença de que o design é orientado para o bem-estar partilhado dos seres vivos e do seu ambiente, e vice-versa.
A Casa do Design em Matosinhos dará espaço a esta intenção prevalecente do design que precisa de ser representada, concretizando-se como um conjunto de projetos nacionais e internacionais que intervêm a nível sistémico nas atuais dinâmicas socioeconómicas do contexto e da comunidade com que colaboram, experimentando um repensar radical da nossa relação com o tempo e o espaço coletivo através do design em diferentes escalas e políticas:
- descanso e lazer
- formas de encontro geracional e intergeracional
- prazer e diversão
- bem-estar partilhado
- intercâmbio de conhecimentos
São bem-vindos projetos e práticas que enfatizem o design como uma prática inerentemente social e política e não como uma busca individual, oferecendo manifestações tangíveis de como o design pode criar novas qualidades temporais e espaciais nas nossas experiências diárias.
Elegibilidade
- Aberto a designers individuais, estúdios de design e coletivos de design
- Os projetos devem estar disponíveis para montagem a partir de 30 de setembro
- A exposição realizar-se-á na Casa do Design, Matosinhos
Requisitos do projeto
Os projetos devem abordar um ou mais dos seguintes temas: descanso e lazer; formas de convívio geracional e intergeracional; prazer e divertimento; bem-estar partilhado e intercâmbio de conhecimentos
Os projetos devem ser desenvolvidos em colaboração ativa com uma comunidade, associação, município ou outra entidade coletiva.
Se existir documentação sobre o processo de colaboração, esta deve ser incluída.
Os projetos devem apresentar resultados materiais tangíveis:
- produto
- projeto de investigação
- projeto editorial
- instalação
- documentário, filme
- ação participativa, oficina
- startup inovadora
- ambiente digital
Incentivamos a projetos transdisciplinares.
Requisitos para a apresentação de projetos
- Descrição do projeto (máximo de 500 palavras)
- Documentação visual do projeto (máximo de 5 imagens)
- Documentação do processo de colaboração (máximo de 5 imagens)
- Breve explicação da forma como o projeto se enquadra no quadro temático (máximo de 250 palavras)
- Requisitos técnicos e necessidades de instalação para a exposição
- CV do(s) designer(s)
- Portfolio do(s) designer(s)
Critérios de seleção
O conselho consultivo avaliará cada projeto de acordo com os seguintes critérios:
A | Relevância para o quadro conceptual da exposição.
B | Relevância efetiva para o campo da prática, da investigação e do design no design contemporâneo.
C | A capacidade de abordar questões ambientais e sociais urgentes, apoiada por uma investigação e materialização de design abrangente.
D | A presença da dimensão inclusiva, participativa e colaborativa, tanto no processo de conceção como no formato de apresentação do projeto.
Calendário
Lançamento do convite aberto: 27 de março de 2025.
Prazo de apresentação: 23:59 (WET) de 1 de maio de 2025 - As candidaturas recebidas após esta data não serão consideradas. Os projetos serão selecionados por um conselho consultivo multidisciplinar coordenado pela equipa curatorial.
Notificação dos projetos selecionados: via e-mail na segunda quinzena de maio de 2025.
Inauguração da exposição: 23 de outubro de 2025.
Encerramento da exposição: 14 de março.
Submete a tua proposta aqui.
Para mais informações, por favor, contacta-nos para esadidea@esad.pt