Porto Design Biennale 2023
"Ser Água", com curadoria de Fernando Brízio, é um convite para pensar vivências mais sustentáveis
Rain Vases, 2019 - Martín Azúa
Prevê-se que em 2030 haja um défice de 40% de água em relação à procura. Como podemos cuidar do que não conhecemos bem? Esta edição da Porto Design Biennale apresenta um programa de exposições e outras atividades que atuará em simultâneo nos espectros visível e invisível, orgânico, inorgânico e efémero da água.
Para além de projetar melhores e mais eficientes usos da água, esta edição da Porto Design Biennale procurará conceber modelos de coabitação alternativa, simbiótica, entre humanos e mais que humanos, numa relacionalidade vantajosa e sustentável para todos.
A decorrer entre os dias 19 de outubro e 3 de dezembro, a Porto Design Biennale disponibiliza hoje o seu programa detalhado para uma edição que parte do elemento mais fundamental, a Água, para discutir e pensar o papel do Design na emergente sobrevivência ambiental. Sob a curadoria de Fernando Brízio, o Programa Principal desta edição apresenta um conjunto de exposições, instalações e conversas que pretendem criar uma plataforma transdisciplinar para pensar as várias dimensões e as vivências em torno dos recursos hídricos. O programa reúne vozes nacionais e internacionais num diálogo que procura dar forma a futuros mais sustentáveis, equitativos, livres e felizes.
Petrichor, O cheiro da chuva é a exposição principal da proposta programática deste ano. Desenhada por Fernando Brízio e instalada na Casa do Design em Matosinhos, esta exposição sublinha a ubiquidade da água, a sua presença e circulação enquanto elemento fulcral de ligação entre todas as coisas. Através de interfaces de fluido (válvulas artificiais para o coração, capacetes de mergulho, barcos, rastreadores de tráfego de navios, veículos subaquáticos para mapear aquíferos subterrâneos, entre muitos outros) e também lugares de comunicação, troca, interação/intra-ação entre águas (nos seus diversos estados), e entre águas e outros agentes reflete-se sobre os interface de fluido aquoso e a forma como estes são cruciais a todas as relações de matéria do mundo.
Instalada no 3. º piso do Palácio dos Correios no Porto ao longo de todo o período da Biennale e com curadoria de Miguel Vieira Baptista, a exposição Ligações foi pensada como uma coleção de objetos de produção sobretudo nacional, tendo como ponto de partida um simples copo de água. A água como matéria é aqui o elemento central, assumindo o propósito de criar ligações entre o visitante e os vários conteúdos, numa exposição em que não há um percurso pré-definido.
Também no Porto, no Reservatório de Água Nova Sintra, Joana Pestana e Mariana Pestana propõem a instalação EdenX 3.0, uma plataforma digital que ensaia modos de diálogo entre humanos e não-humanos acerca dos rios, dos seus constituintes e respetivos direitos. Durante a Porto Design Biennale, cerca de 15 pessoas irão juntar-se online para falar em nome próprio ou representando outras entidades. A conversa vai decorrer em três momentos narrativos, em texto, na língua portuguesa e será possível assistir em tempo real ou em diferido na instalação situada no Reservatório de Água Nova Sintra ou através do website www.edenx.pt.
Por sua vez, a exposição The WaterSchool Classroom: ‘Gabinete de Curiosidades, desenvolvida pelo Studio Makkink & Bey (Roterdão) apresenta ficções especulativas sobre o modo como o design cria formas sustentáveis de uso da água e de vida em comunidade. Duas salas da Galeria da Biodiversidade serão transformadas num ‘Gabinete de Curiosidades’, apresentando propostas de artistas, arquitetos e designers e convidados que pretendem gerar um debate sobre a forma como a habitação, a vida e o trabalho podem ser repensados e mesmo redesenhados tendo em conta a água e o seu aproveitamento.
No Palacete Viscondes de Balsemão — Gabinete Triplex será possível visitar a exposição Apagar a Linha: Entre a Terra e a Água, com curadoria de Ivo Poças Martins. Aqui, a zona do Cabedelo do Douro é o território escolhido para levantar questões profundas sobre as fronteiras e linhas que separam (ou unem) os diferentes elementos que compõem a vida na Terra. O percurso expositivo é pontuado pelo trabalho do artista Attilio Fiumarella.
Também no Palácio dos Correios, desta vez no piso 7, Margarida Mendes apresenta Catharsis, uma exposição que expõe o trabalho de coletivos de pesquisa transdisciplinares, movimentos solidários e ativistas que reportam a partir de diferentes corpos d’água. Do rio Bogotá ao baixo rio Mississipi, dos palmários de Marrakesh, às terras desertificadas do Golfo, ou ao Channelsea, estes coletivos estabelecem conexões entre lutas contínuas que ocorrem em bacias hidrográficas em várias partes do mundo. Combatendo estes modos de ocupação com atos de resposta criativa, os exemplos de insurreição hídrica aqui apresentados apelam à abolição das fronteiras e privatização dos recursos.
Como sucedeu nas edições anteriores, a Porto Design Biennale integra a perspetiva de outros territórios e países na sua programação. Este ano, é a Galiza (Espanha) o território em destaque. Para o curador David Barro, responsável pelo programa do país convidado para esta edição da Porto Design Biennale, o futuro deve ser pensado em relação com a água e o oceano. Estes são o espelho daquilo que se passa no mundo, e ainda mais se considerarmos a posição atlântica da Galiza e de Portugal; daí que a relação com a água e o mar protagonizem o ponto de partida e o ponto de chegada deste programa. Uma proposta que se consubstancia em Galiza. Processos e Formas, um projeto expositivo e editorial que traça um percurso pelo passado, presente e futuro do design galego, mostrando alguns dos seus marcos através de uma série de profissionais e empresas chave pela sua aposta no design como motor de inovação desde os anos 20 do século passado até à atualidade. Patente na Galeria Municipal de Matosinhos ao longo de todo o período da Biennale.
Paralelamente às atividades expositivas, a Porto Design Biennale contará ainda com um programa alargado de conversas. Aquilégio — Conversas com aqueles que encontram e guardam a água reúne vozes de múltiplas proveniências. Antropólogos, designers, geólogos, arquitetos, artistas, engenheiros, ativistas, políticos, realizadores e cozinheiros partilharão o seu trabalho e pensamento, fomentando diálogos e encontros plurais com a água.
O programa da Porto Design Biennale integra ainda um vasto programa de atividades satélite, projetos selecionados através de uma Open Call para integrarem a reflexão em torno do tema da Água. Entre os 10 projetos selecionados encontram-se ações na área da gastronomia, ciclos de cinema, instalações, performances, ou um evento que parte da recuperação do jogo de tabuleiro Petróleo. Em cima da mesa estarão formas alargadas e originais de discussão em torno da preservação dos recursos hídricos, descontaminação do terreno, leituras sobre as relações de poder mundial e testes em torno de materiais recicláveis.
A programação integra ainda uma série de Constelações, eventos com organização e curadoria autónomas que, pela sua pertinência disciplinar e temática, são acolhidos na programação da Porto Design Biennale. A obra de Álvaro Siza, o setor do mobiliário e a sustentabilidade e reutilização de materiais são alguns dos temas abordados.
Neste âmbito, a Agora du Design e o Institut Français du Portugal apresentam a exposição Algas Elétricas, com curadoria de Scott Longfellow, na Fundação Marques da Silva. A exposição apresenta dois projetos: a investigação de Samuel Tomatis sobre as algas verdes que invadem as praias e criam matéria orgânica tóxica; e o trabalho de Pablo Bras sobre os subúrbios residenciais e os fluxos, materiais e energias presentes nessas áreas.
A Porto Design Biennale é um evento que tem vindo a fomentar o debate e a acolher inquietações e perspetivas múltiplas, assim como a estimular o interesse pelo Design, impulsionando novos discursos e práticas que aumentem a capacidade prospectiva da disciplina de delinear soluções inovadoras para problemas coletivos.